sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

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Pobre cão abandonado. Vaga às noites faminto, sedento por atenção. Lhe lançam um pedaço de alimento, e ele agarra como se fosse muito, como se fosse o mundo; tenta fingir não saber que amanhã não haverá se quer abrigo, quanto menos com o que saciar e esconder sua dor. Deleita-se com um simples afago e um olhar de piedade e pena. Se recolhe sobre a noite fria e sob a imagem daquele olhar, o sabor daquele alimento; tenta encontra para si um sentido. Por quantas vezes não é assim que os homens se sentem quando sobre efeitos da paixão. Almejam o mundo, mas o pouco por vezes é tão satisfatório o quanto. Procuram uma utilidade para aquele sentimento. Alguns aproveitam-no como fonte de inspiração. Disfarçam com um sorriso, mas todos se recolhem sob a noite fria com a esperança do um momento completo de carinho e atenção; seguido pela frustração de vê-lo despedir-se.