quarta-feira, 30 de março de 2016

205

Ela me olhou nos olhos e eu, na esperança de que não fosse despedir-se, sorri. Eu a acompanhei pelas ruas fartas de gente e dores. Eu a coloquei sobre meus ombros a deixei aonde haveria de ficar em segurança. Com um sorriso ela me agradeceu. Eu não me enganei, afinal. Não ela não se despediu. Ela foi, e desde então a esperei em vão.

quarta-feira, 23 de março de 2016

204

Há lembrança e, esta sim, é um prato que se come frio. De paladar amargo e que quase sempre leva à ruminação. Pois como então eliminar a dureza de se necessitar de um prato pouco louvável? Diante da lembrança, há quem coma, há quem beba. Pobres de nós que, cientes de suas arguras, insistimos em provar sempre do mesmo prato.

quarta-feira, 16 de março de 2016

203

Numa (in?)sensível dialética entre a tua beleza e a minha melancolia, a nossa síntese não poderia ser nada mais que ele: no curso das palavras; na interação dos corpos, no final só nos restou o silêncio.

terça-feira, 8 de março de 2016

202

Nestas cinco polegadas observo-te abandonar o meu apreço. Permaneço nesse quarto de uma bagunça inabitável. Bagunça essa incomparável com o caos que causou reviravolta quando decidimos que não deveríamos habitar mais o peito um do outro mutuamente. Ora! Ainda não aprendi como farei para organizar-me o quarto e tornar-me o peito novamente habitável.