quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

193

Morar no passado é um fardo largo. É um sentimento caro e pesado que acompanha sons e imagens. Canções contam segredos de um passado atormentador. Acordado num lento pensamento. Num vazio profundo de identidade; da ausência de algo perdido do espaço infinito do tempo indeterminável. Aonde ele se perdeu? Talvez a nostalgia o revele - ora, lhe dilacera a alma saber que procurar é enfrentar um abismo. Um frio que ele nem mesmo sabe se vai suportar. E o medo de lembrar. De descobrir que recuperar é também perder.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

192

Velha era a árvore que crescia sobre sua montanha particular. Chovia pouco, e pouca vida se via nela. Nenhuma jovialidade; nenhuma cor. Seus pássaros a cobriam com tons turvos de negro e claro, mas como chegara o frio, os disfarces fogem, e a velha árvore se vê sob o abismo como tem de ser: morta ainda crescendo. A árvore, seca, cresce para onde tem de crescer. E o peso de carregar os pássaros dos quais tanto se orgulhara - e que em um momento sempre a abandonam - fizeram-na pender para onde só resta cair. Se ela pudesse escolher, talvez torcesse para que, despedaçada ao pé da montanha, pudesse crescer novamente altiva; vivaz, e recomeçar o projeto sem êxito que a natureza-lhe deu. Reaproveitar a pouca seiva, alimentar a grama, e viver nela mais uma vez talvez seja o que lhe resta.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

191

Uma notícia pouco notória se dava ao amanhecer dos jornais. Eram notícias de jovens, não de guerra; que neste momento era difícil diferenciar. Uma música acontecia ao fundo e os pensamentos tontos que faziam parte de uma hierarquia escrota. Aparentar o veraneio não faz parte só da imaginação, assim como nossos sonhos estão dentro de nós: os que temos quando estamos DORMINDO ou ACORDADOS. Aceitamos os vetos na mesma impaciência que vemos o número longo das senhas. O tempo e o momento não desafiam a sorte, nem consigo afirmar se ela existe. Mas os encaixes do azar nos levam a loucuras!