terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

192

Velha era a árvore que crescia sobre sua montanha particular. Chovia pouco, e pouca vida se via nela. Nenhuma jovialidade; nenhuma cor. Seus pássaros a cobriam com tons turvos de negro e claro, mas como chegara o frio, os disfarces fogem, e a velha árvore se vê sob o abismo como tem de ser: morta ainda crescendo. A árvore, seca, cresce para onde tem de crescer. E o peso de carregar os pássaros dos quais tanto se orgulhara - e que em um momento sempre a abandonam - fizeram-na pender para onde só resta cair. Se ela pudesse escolher, talvez torcesse para que, despedaçada ao pé da montanha, pudesse crescer novamente altiva; vivaz, e recomeçar o projeto sem êxito que a natureza-lhe deu. Reaproveitar a pouca seiva, alimentar a grama, e viver nela mais uma vez talvez seja o que lhe resta.